Durante décadas acreditava-se numa relação positiva entre o Quociente de Inteligência (QI) das pessoas e o seu desempenho, de modo que as pessoas inteligentes eram percebidas como melhor sucedidas em comparação com as pessoas menos inteligentes. No entanto, o QI ignora áreas como a aptidão física, os conhecimentos e outras competências que possam resultar em vantagem significativa. Existe uma diferença significativa entre QI e QE (Quociente Emocional). O QE pode ser definido como a habilidade dos indivíduos para interagir com outras pessoas e lidar com situações sociais. Parece acreditar-se hoje que as pessoas que tenham um bom equilíbrio entre QI e QE são frequentemente melhor sucedidas.
O QE não se refere à tática ou à diplomacia, mas antes à forma como aprendemos, reconhecemos e expressamos os nossos sentimentos e como respondemos (de forma efetiva) aos outros, quando se torna necessário lidar com este tipo de informação. Corresponde a um conjunto de competências que facilitam um melhor desempenho académico e profissional, mas também boas interações sociais e uma vida saudável, que conduz à satisfação pessoal. Tal significa que a Inteligência Emocional (IE) é um conceito muito importante para a eficácia organizacional.
No passado, a emoção foi considerada uma interferência no pensamento racional e lógico. A imaturidade e confusão associadas à emoção deveriam ser excluídas se o importante fosse pensar com clareza. Claro que, as emoções não geridas poderão ser devastadoras, mas à medida que aprendemos mais sobre como o lado cognitivo e emocional trabalham juntos, parece tornar-se mais evidente o importante papel que a inteligência emocional desempenha no local de trabalho e, em geral, nas organizações.
Nos últimos anos, a emoção começou a ser vista como adaptativa, útil e funcional. Organiza o pensamento, facilita a identificação do foco de atenção e motiva o comportamento. O papel mais amplo e significativo da inteligência emocional no desempenho do trabalho, na liderança e noutras frações da vida organizacional aumentou a validade deste conceito.
Como as organizações são espaços onde os problemas surgem e as pessoas trabalham num circuito de interações com os outros, a informação emocional desempenha um papel vital na vida das pessoas (a nível profissional e pessoal). Por vezes, pessoas inteligentes, que têm um percurso académico brilhante, não são boas na interação social e nas relações interpessoais. A Inteligência Emocional pode realmente ser um fator determinante no desempenho eficaz dos colaboradores no local de trabalho.
Como tal, o gestor emocionalmente inteligente pode dirigir sob pressão, analisar os problemas e resolvê-los de forma criativa, tomar decisões e gerir uma força de trabalho diversificada, ajudando a equipa a esclarecer questões e a resolver conflitos. O vendedor emocionalmente inteligente pode superar barreiras para atingir metas e redireciona os esforços no sentido de obter resultados mais positivos. O trabalhador emocionalmente inteligente é um elemento da equipa que gosta de ir trabalhar e que se orgulha da sua dedicação ao excelente desempenho no trabalho. A inteligência emocional pode afetar todos os atores na organização, elevando o nível de desempenho.
As organizações precisam de líderes e colaboradores que suportem as instabilidades económicas e que tirem proveito das oportunidades daí decorrentes. Isto significa que a gestão de recursos humanos deve repensar constantemente um processo sistemático de emprego ou uma abordagem que possa providenciar uma força de trabalho e líderes capazes de tirar vantagem dessas mudanças. Indivíduos emocionalmente inteligentes estão mais cientes das suas forças e das suas fraquezas, o que produz benefícios para as organizações que pretendem adquirir vantagem competitiva através da flexibilidade, da inovação e da rapidez na resposta. As pessoas emocionalmente inteligentes têm maior facilidade em reconhecer, processar e lidar com as suas emoções e com os outros de forma eficaz e eficiente. A Inteligência Emocional proporciona preciosos benefícios a organizações que são alvo de mudanças constantes, melhorando a eficiência ao nível do trabalhador, da equipa/grupo e da organização.
São muitos os que advogam que as organizações devem focar-se na inteligência emocional dos funcionários, a fim de serem bem sucedidas.
* Rodrigues, A. L., & Machado, C. F. (2019). Inteligência emocional: história, modelos e consequências. In Machado, C. and Davim, J.P. (Coords.) Resiliência e Inteligência Emocional. Grupo Almedina / Actual: Coimbra.